quinta-feira, 12 de março de 2015

Envelhecer é a melhor opção

Simone de Beauvoir
 
Falar sobre a mulher sempre me remete à Simone de Beauvoir que disse, no clássico O Segundo Sexo, "ninguém nasce mulher: torna-se mulher". Outra reflexão que, ainda em Simone, podemos encontrar é sobre a velhice: "A impressão que eu tenho é de não ter envelhecido, embora eu esteja instalada na velhice."

Absorver os sinais que o tempo vai, vagarosa e caprichosamente, imprimindo ao nosso corpo, se mostra cada vez mais difícil, numa sociedade em que o padrão de beleza se estabilizou nos 20 ou 30 anos de idade. Parece que somente a vida amorosa, profissional e cultural desta faixa etária encontra espaço na mídia. O que nos força, inconscientemente, a mitigar nossa realidade, a emprestar menos importância aos fatos cotidianos que nos cercam e a reputar menos digna de ser divulgada ou conhecida a nossa história.
 
O mundo do corpo perfeito, dos músculos cultivados com base numa dieta rígida e frequência espartana às academias, não valoriza o interior, as ideias, a experiência, que só adquirimos com a passagem do tempo.
 
A propósito, vivemos tempos voltados para mascarar a passagem do tempo. Dizem que uma mulher que revela sua própria idade é incapaz de guardar um segredo. Exageros à parte, não é difícil encontrar mulheres bonitas e bem sucedidas que mentem ou que se recusam a declarar sua idade.
 
Pode uma mulher que, a exemplo do criador, é capaz de gerar outra vida, que produz em seu seio o alimento que garante a sobrevivência de outro ser, dentre outras inúmeras características e qualidades que lhe asseguram a essência feminina, permitir que sua definição seja reduzida à "uma caixa maravilhosa cheia de nada ou de quase nada"?
 
O cuidado com o corpo é importante. Definitivamente, não pretendo fazer apologia ao sedentarismo. Ao contrário, sempre me exercitei. Está mais que provado que exercícios físicos fazem bem para o corpo, em termos estéticos, biológicos e, também, psicológicos. O que eu questiono é este culto ao corpo, essa veneração à forma. Ora, o corpo é só a embalagem, o invólucro - se estamos vazias por dentro, pra que caprichar tanto na aparência exterior?
 
Brigamos tanto por igualdade, até queimamos sutiã em praça pública por tão pouco?
 
É isso mesmo?
 
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Célia Cunha Mello é Procuradora do Estado (MG)
Publicado em: http://balaiodavivi.blogspot.com 

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