segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Brindes (alguns)

 
 


um brinde à solidão sem rivotril
um brinde aos amigos
um brinde ao prazer que não se compra
um brinde ao ser e ao ter

um brinde ao dar conta de dar conta
um brinde à vida
um brinde a todas as formas de poesia (entre elas, o amor)

UM BELO ANO NOVO A TODOS!


sábado, 29 de dezembro de 2012

Que corpo é esse?

 
Uma cena, entre milhares, talvez tenha passado despercebida. Talvez não. Afinal, o que é mais uma cena num mundo esgotado de cenas? Uma cena mais num cotidiano de cenas reeditadas? Por que parar pra prestar atenção numa cena, digamos diferente, logo em dezembro? Um mês que perdeu sua noção de tempo. Que não dá tempo nem para si mesmo. Um mês que já foi dezembro. E não serve mais como referência no calendário para a gentileza – por falta de tempo. Quando dezembro chega, não dá mais tempo para pequenos gestos de delicadeza. Mas o que ainda faz a gente olhar para o que passou?

Talvez esse olhar para trás seja mais um item da lista de fim de ano. Talvez sim. Rever o que passou. O que o acaso nos trouxe, mas não percebemos. O que foi perdido por descuido ou por excesso de cuidado. Rever o que queríamos muito, mas não o alcançamos. O que não nos coube. O que nos coube, mas não nos demos conta disso. Por medo. Por covardia. Por babaquice. Algo que aconteceu conosco, com o outro, no mundo, na vida, para o melhor, para o pior. Acontecimentos. Singelos ou não. Uns nos tocam mais – por quê? Outros gravíssimos não nos dizem muito – por quê?

Talvez seja mesmo mais um item da lista de fim de ano olhar para trás. Rever e rever. A propósito, temos tempo pra isso? Tempo pra ver novamente com olhos generosos o que passou? Ainda temos tempo para a generosidade? Espaço? Corpo?

Circulou nas redes sociais, durante os protestos dos indignados nas ruas de Madri, fotos de uma manifestante, só de calcinha. Uma mulher, numa multidão de indignados, usou seu próprio corpo como meio (instrumento) de manifestação política. Com que, no entanto, ela estaria indignada? Houve quem estranhasse… No cartaz que a mulher trazia consigo estava escrito: Love Revolution. Mais estranhamento e também curiosidade, despertada pela própria imagem da mulher e do amor nessa cena recortada.

Fotógrafos ao seu redor flagraram um espetáculo à parte: um corpo na multidão chamou atenção pela sua beleza e por algo mais, além da forma e para além da estética. O corpo que se desprendeu da massa de indignados trouxe um discurso que falava de amor. Mas por que o amor? Paz, liberdade, paixão também estavam escritos no cartaz. E por que esse corpo protestava por uma revolução do amor?

Não é comum um corpo de mulher na rua cuja nudez parece adormecida. Uma nudez sem os apelos eróticos com os quais estamos acostumados. Sem as caras e bocas da sedução forjada dos corpos que vendem mercadorias. Um corpo de mulher apenas. Um corpo despido, de verdade, na rua – teria sido este o espetáculo?

Um corpo sem a sensualidade fabricada com a qual identificamos hoje o corpo feminino. Um corpo cansado disso, talvez. Um corpo à espera, talvez. Um corpo destoante. Ingrato. Um corpo de mulher que pede amor, nessa altura? Mais do que isso, um corpo que protesta por uma revolução que comece por ele. Um corpo marginal?

Um corpo quase morto. Passivo? Feminino. Um corpo que talvez reivindique a gratuidade num mundo em que falta tempo e espaço para ela. Em um mundo quase exclusivo de mercadorias. De fetiches industrializados. Jean-Claude Guillebaud (autor de A tirania do prazer) disse certa vez que as conquistas na sexualidade, após a revolução sexual, foram apropriadas e recicladas pela sociedade do dinheiro que transformou o sexo em mercadoria. Em matéria de sexo, tudo é permitido e também pago, segundo Guillebaud.

De volta à imagem, o que parece pedir esse corpo de mulher? Amor como última estância da gratuidade, talvez. Do encontro não marcado, talvez. Amor que às vezes começa pelo olhar. Pela conversa dos sentidos, e se inscreve no corpo feminino e nele tece histórias. Amor para celebrar a vida erótica que passa pelo corpo. Amor vivido no corpo. Amor que cria camadas de narrativas no corpo da mulher. Amor que liberta. Amor que privatiza. Amor que recobre o corpo. Amor porque simplesmente se quer amar – por que não? É proibido? Por que esse corpo parece desejar o amor? E isso o torna enigmático?

Talvez seja mais um item da lista de fim de ano, olhar para trás e rever cenas inéditas.

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Viviane Campos Moreira
Publicado no  Amálgama
Também publicado no site Pragmatismo Político

Minha página no Amálgama: aqui

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Vermelho, dourado e verde



Muitos detestam esta data.
Alguns se inspiram nos natais de outros tempos e ficam mais afetuosos do que já são. Doam-se em lembrancinhas. Em bilhetinhos. Em cartinhas. Em SMS. Em beijinhos.
Outros quase viram manteiga derretida. Choram de saudade. Choram de alegria. Choram o choro silenciado durante o ano.
Muitos aproveitam as luzes natalinas pra prestar atenção em quem esteve presente, ainda que distante, nos momentos mais chatos. Alguém que não desistiu da gente quando a gente mesma não se aguentava mais.
E há quem não ligue para o dia 24 de dezembro porque esta data é só mais um dia de Natal – será?
Também há quem deseje que este dia desapareça do calendário – confesso que eu embora goste do Natal rogo praga quando caio num engarrafamento de dezembro! Ninguém é mesmo perfeito, não é? E nesta época defeitos são de menos.
Seja como for, é tempo de Natal.  
Tempo de dourado, vermelho e verde. Tempo de enfeitar a casa. De tocar em objetos que nos trazem de volta o sorriso de alguém que já se foi. Tempo de viver o Natal que se tem pra viver. Como a vida. Com edição caprichada dos melhores e piores momentos. Tempo de brindar o encontro. De partilhar o afeto que sobrevive a uma vida corrida demais. Tempo de sonhar. De suspirar pelo presente que pode ser diferente – por que não? Tempo de sabores. De revisitar amores vividos, mas não esgotados. Como diz aquela canção: “amores serão sempre amáveis”. Tempo de desejar. De sentir novamente na boca o gosto infantil das promessas. Tempo de parar. De não ter mais expectativas porque chegou o Natal. Mais um. Mais outro. Que seja.
É tempo do verde, do vermelho e do dourado.
 
***
Meus votos de um ótimo Natal a todos!

domingo, 16 de dezembro de 2012

GRAFITE


 
quem você pensa que é
pra me torturar sem nenhum glamour
com o que você pensa que eu penso sobre você
com o que você pensa que eu penso sobre nós
com o que você pensa que eu penso sobre o que eu não penso
com o que você pensa que eu penso mesmo quando eu não penso
 
quem você pensa que é
pra me devorar devagar, mas sem disfarce algum;
seu sedutor de segunda
seu sedutor de meia-tigela
seu sedutor de meia noite
seu sedutor de festim
 
você não é o George Clooney, meu bem
tampouco o velho bêbado da esquina;
o homem da barba encardida que fede, que cospe, que escarra
e fala sozinho dia e noite pra não esquecer que foi amado
 
quem você pensa que é
pra dosar sem cor, em conta-gotas, a música
que eu suspiro
que eu mereço
que eu preciso
que eu quero
 
quem você pensa que é
pra consumir em banho-maria, sem vergonha, sem humor
minha espera
minha agonia
minha entrega
minha confissão
 
você não é o Heinrich Blücher, meu bem
o titereiro anarquista que fez Hannah Arendt sorrir
- títere é o doido da padaria que esbraveja, que xinga, que se rasga
e suplica de volta a ternura da puta de seu delírio
 
quem você pensa que é?
Bentinho?
(e eu? Capitu?)
pobrezinho
 
 
 
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Viviane Campos Moreira em AMOR EM PEDAÇOS & VERSOS
Publicado em videbloguinho
 
*Peça de Acácia Azevedo - Blog

Mais: A CANÇÃO DO KEITH
 


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

tempo, tempo

Um vídeo com palestra de Maria Rita Kehl que fala sobre aceleração e depressão tocando numa questão "da hora": o tempo nosso que perdemos para o "tempo é dinheiro". Maria Rita citando Antonio Candido argumenta que o "tempo é o tecido das nossas vidas".

Vídeo aqui